Velejar: a ferramenta mais poderosa de team building

Como gringo de respeito, apaixonado por vela e de treinamento, sempre me perguntei porque o Brasil usa tão pouco o potencial dessa modalidade como ferramenta de coaching, liderança ou de team building. Seria interessante comparar os valores do mundo da vela com os valores das empresas mais bem colocadas do ranking Great Place To Work, tenho certeza de que acharíamos resultados muitos parecidos.

Muitos sabem sobre o retorno do investimento sem comparação das ações de marketing vinculadas à vela (apesar das empresas continuarem tímidas no Brasil).
Poucos sabem que a vela pode ser menos elitista como realmente achamos que é, e pode se tornar uma ferramenta de capacitação profissional, e de team building muito poderosa. 

Caso ainda tenha dúvidas, veja os pontos abaixo:

Organização é fundamental para velejar

Se você não for organizado, provavelmente você não vai conseguir avançar, ou você vai se colocar em uma situação de risco. Todos precisam ocupar suas respectivas funções, sem que a noção de “glamour” aumente ou diminua a importância de cada um no time.  

No mar, fora do ambiente confortável do dia a dia, é necessário confiar no outro e se apoiar. Facilitar o sucesso da missão do outro faz com que você seja assertivo na sua própria missão. Nada melhor do que lembrar do quão importante são as pessoas ao seu redor, e como podemos trabalhar juntos. 

Rigor é imprescindível 

O rigor durante a navegação, assim como nos negócios, é essencial para evoluir da maneira mais segura e eficiente possível. Desde da preparação da saída até a execução das manobras, o time precisa se preocupar de forma impecável com cada detalhe. 

  • Do que adianta ser o mais eficiente para subir velas se estiver utilizando as velas erradas? 
  • Do que adianta ser o mais preparado fisicamente se for utilizar uma trajetória que vai desgastar muito mais o time?
  • Do que adianta ter o melhor barco se não puder estudar a configuração do local, e usar uma estratégia errada? 
  • Do que adianta ter preparado tudo perfeitamente e não olhar a previsão de tempo antes de sair, a ponto de colocar seu time em perigo?

A lista de pequenos detalhes é muito longa, e implica em respeitar processos dentro de um checklist. Ela também faz com que sempre haja algo para aprender com alguém, nos permitindo ser mais abertos e exigentes conosco. 

Velejar ensina a se comunicar melhor

Caso você não ouça o capitão avisar que o veleiro vai virar, no melhor dos casos o veleiro vai perder muita velocidade, mas pode ser que alguém acabe levando o boom (pedaço de metal que segura a parte de baixo da vela mestre e que passa de um lado ou outro do barco ao virar de bordo) na testa, se machucando ou até mesmo testando a temperatura da água de forma não voluntária. 

O que complica a situação é que as tarefas de todos estão ligadas, e devem ser feitas em uma determinada ordem. Ouvir ou falar não é suficiente, é necessário prestar atenção em todos os seus colegas, e verificar se a informação chegou bem, e garantir que as ações sejam realizadas da forma correta. 

Me lembro bem de um técnico de basquete que dizia – meus parceiros e eu entendemos dessa forma na época – “se alguém não consegue receber a bola, a culpa é sempre de quem estava mandando a bola.” O passador precisa julgar a capacidade da pessoa em receber a bola e verificar se a pessoa recebeu os sinais do passe de forma correta.

A mesma coisa acontece na vela ao virar de bordo de forma ainda maior, mas para uma simples mudança de direção, de 2 a 6 pessoas podem ser envolvida no mesmo tempo. 

Tudo favorece a ajuda mútua na vela

Sim, a colaboração e a cooperação são necessárias evidentemente, especialmente quando trata-se de uma velejada corporativa onde os níveis de competências de cada um são muito contrastados. A ajuda mútua aparece naturalmente e intuitivamente. 

Como em alcateias de lobos, a velocidade do grupo é a velocidade do mais devagar. Quem tem mais conhecimento técnico vai ter mais interesse em explicar melhor o funcionamento das catracas para assegurar o sucesso da sua estratégia. Quem tem mais músculos vai precisar da ajuda de quem tem mais agilidade para desenrolar a drisse que foi para o lugar errado. Quem vai velejar vários dias, precisa revezar para dormir. O interesse individual passa, pelo aumento da competência coletiva! 

Velejar também traz alguns riscos devidos ao meio externo, ao barco, e às pessoas. Pode acontecer do tempo virar sem previsão, o que coloca os tripulantes em uma situação de risco. Peças do barco podem quebrar. Pode acontecer de alguns colegas ficarem com medo, enjôo ou muito cansaço. O fato de todos estarem “no mesmo barco” facilita a empatia junto ao time em torno de um objetivo em comum, que vai de, ter prazer em uma tarde de sol antes de voltar na marina, ao chegar em primeiro lugar em uma regata ou conseguir voltar ao porto sem leme por conta de um encontro não desejado com um tronco de árvore na baía de Paraty (não vêem nada de pessoal nesta história, ok?). 

Velejar ajuda a se posicionar dentro de um time e do seu ambiente

Análise e antecipação são duas atitudes que são fundamentais em um barco. Cada um deve prestar atenção constantemente àqueles ao seu redor, e ficar atento. 

Um veleiro aderna facilmente de 20 a 30°, ou mais: se deslocar de 1 ou 2 metros no meio das ondas pode ser algo difícil, ainda mais sem atrapalhar ninguém! 

Um veleiro – mesmo grande – continua sendo um espaço restrito: se você não guardar suas escotas (as cordas usadas para regular as velas), pode ter briga quando precisar usá-las, pois alguém estará pisando nelas tentando ficar em pé ao se orientar nesse ambiente tão diferente do escritório.

Um veleiro continua sendo um meio de deslocamento que encontra vários lugares e várias situações, mudando de configuração em função da hora. Há uma lenda que conta que três pessoas, com muita malícia e pouca moral, sempre vão assistir o desespero de velejadores novatos na área do canal de São Sebastião e Ilha Grande, virando de bordo desesperadamente ao som do alarme dos sonares de fundo, sendo surpresos pela velocidade com que a profundidade muda. Mas isso é uma lenda, pelo menos eu espero que seja, pois provavelmente eu possa ter sofrido bullying!  

A análise do ambiente é perpétua para entender as mudanças de configuração do local, para evitar uma colisão com um obstáculo por perto, para analisar o vento, que pode de repente mudar de direção, forçar ou impedir a chegada de uma onda muito mais alta que as outras. Os tripulantes desenvolvem naturalmente, capacidades de antecipação e de análise do seu ambiente, qualidades essenciais no mundo corporativo.

Se você faz parte da minha rede, é porque você provavelmente compartilha da minha paixão por desenvolver pessoas. Espero que compartilhando minha outra paixão, eu tenha conseguido mostrar uma forma diferente e pouca conhecida de levar profissionais e times para um outro patamar, ou que tenha te ajudado a pensar de uma forma diferente sobre a capacitação do seu time. Agradeço a leitura, fique à vontade para seguir meu Instagram aqui caso queira saber mais sobre o assunto, e entrar nesse mundo tão empolgante. 

Abraços!

Pierre-Jean

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